Gabriel Lobão, com 26 anos, simboliza uma fusão rara entre talento, disciplina e identidade multicultural. Nascido em Neuilly-sur-Seine, nos arredores de Paris, cresceu entre a cultura francesa e as raízes portuguesas. Principalmente, a música esteve presente em casa, não apenas como ambiente sonoro, mas como uma verdadeira linguagem de ligação familiar.

Com apenas três anos, protagonizou um episódio curioso: depois de uma queda, começou a cantar a caminho do hospital. “Foi a partir desse momento que os meus pais perceberam que podia haver algo de especial”, recorda.
Com cinco anos, entrou no conservatório de Épinay-sur-Seine. Contudo, foram aos onze que integrou a Maîtrise de Radio France, o coro juvenil da rádio pública, onde recebeu formação musical rigorosa e viveu experiências marcantes, como cantar na final do Euro 2016. “A música profissional entrou cedo na minha vida, e nunca mais saiu”, afirma.
A sociologia antes da canção
Terminando o secundário no prestigiado liceu La Fontaine, em Paris, optou por não seguir logo o caminho da música. Em vez disso, escolheu estudar Sociologia na Universidade Descartes. “Queria entender as pessoas antes de cantar para elas”, explica. Aprofundou assim temas como comportamento coletivo e dinâmica social, e passou um ano em Madrid, onde analisou diferenças entre as sociedades francesa e espanhola.
Londres: a reinvenção criativa

Após a licenciatura, a música voltou a chamar. Mudou-se para Londres. Durante três anos, estudou música pop e concluiu um mestrado em composição para comédia musical. “Londres deu-me liberdade criativa. Era o que precisava”, diz.
Simultaneamente, formou a banda Rise of Apollo, inspirada na mitologia grega, e explorou sonoridades progressivas. Paralelamente, escreveu uma comédia musical com um amigo inglês. “Foi um salto criativo. Descobri outra forma de contar histórias através da música”.
“A música é o meu lugar. É onde me sinto completo”
The Voice: a oportunidade inesperada
Em 2023, uma reviravolta. A produção do The Voice França descobriu dois vídeos antigos seus no TikTok. Convidaram-no assim para audições, e tudo mudou. Escolheu Over My Shoulder, de Mika, para a audição às cegas. Personalizou o arranjo com elementos de rock e atingiu os quatro jurados.
Escolheu Mika como mentor. “Sentia uma afinidade natural: também viveu em Londres e partilhamos gostos musicais”, justifica. Apesar das dificuldades, como nas primeiras batalhas, Gabriel Lobão mostrou resiliência e evolução. Assim, impressionou nas fases seguintes com interpretações emocionantes como SOS d’un Terrien en Détresse e Lettre à France.

Na final, cantou com artistas consagrados e apresentou Who Wants to Live Forever, de Queen, num momento intenso e memorável. Terminou em terceiro lugar. “Foi uma honra. O público decide, mas chegar até ali já foi uma vitória”, afirma.
O futuro: um novo capítulo
De regresso a Paris, Gabriel Lobão iniciou uma nova fase. “Londres deu-me muito, mas agora estou a construir algo novo aqui”. Trabalha no seu projeto a solo, com enfoque na identidade artística. “Passei mais de um ano a procurar a minha identidade. Gravei muitos temas até encontrar a linha que os unia. Agora sim, há uma história para contar”, partilha.
O seu primeiro single será lançado em junho. “É pop, rock e também latino. Representa quem sou”, diz, revelando a influência de fado, António Variações e Salvador Sobral, entre outros. Por outro lado, a mistura entre o Sul e o Norte, o clássico e o contemporâneo, marca ainda a sua sonoridade.
Gabriel Lobão: uma voz autêntica

Com uma base sólida e experiências diversas, Gabriel Lobão é, assim, mais do que um talento vocal. É um criador que alia técnica, emoção e consciência social. “A música é o meu lugar. É onde me sinto completo”, declara. O seu percurso, feito de escolhas corajosas e cruzamentos culturais, está agora a ganhar forma num projeto pessoal autêntico.
Em suma, o seu caminho começou com notas de infância, passou por palcos internacionais e agora abre-se para o mundo. Para Gabriel Lobão, a música não é apenas um destino: é uma forma de viver, entender e tocar o mundo.