
Desde muito jovem, Cristina Maria revelou um talento singular para as artes. Mas a música e a artes plásticas sempre caminharam lado a lado.
Aos 16 anos, ao observar o mestre canteiro Alfredo Ribeiro no Mosteiro da Batalha, descobriu a escultura como vocação. “Foi exatamente nessa altura que tomei consciência do que queria fazer”, afirma.
Com esse propósito, entrou na Escola Nacional de Artes e Ofícios Tradicionais da Batalha. “Tivemos a sorte de ter mestres que nos transmitiram os valores do ofício, do rigor e da exigência”, recorda. Com mais de 25 anos de carreira, Cristina destaca com orgulho vários projetos que desenvolveu. Em particular, a rosácea do convento de São Francisco, em Santarém, com quatro metros de diâmetro. “Essa foi uma grande obra. E isso foi 2012”.
As Pedras D’Alma
Quando a pandemia de Covid-19 se instalou e parou o mundo, Cristina Maria teve de se reinventar. Dessa forma, acabou por encontrar na escultura uma fonte de rendimento e inspiração.
As Pedras D’Alma foram peças que surgiram quase por acaso. Mas simultaneamente permitiram manter-se fiel a si mesma e à sua arte mesmo nos momentos mais difíceis.

“A escultura foi minha salvação durante esses tempos desafiadores. Na altura em que comecei a fazer esta coleção das ‘Pedras d’Alma’, precisa muito de ganhar dinheiro. Lembro a felicidade que senti quando consegui vender aquelas três peças. Esse dinheiro deu para dividir com pessoas de quem gosto muito e que, como eu, estavam a precisar muito naquele momento. Estava feliz, consegui fazer por mim, tinha de fazer por eles também. Foi gratificante ver como meu trabalho conseguiu atravessar fronteiras e tocar tantas pessoas ao redor do mundo.”
Da escultura ao fado
Simultaneamente, a artista encontrou no fado uma forma de expressão complementar. “A escultura e o fado caminham juntos. Ambos exigem entrega, emoção e verdade. É uma parte essencial de quem eu sou, uma fusão perfeita entre minhas duas grandes paixões.”
Por outro lado, e apesar de não ter antecedentes familiares nessa área, a sua determinação em seguir aquilo que a sua alma pede foi inabalável. Encontrou, por essa razão, inspiração em artistas como Dulce Pontes e Amália Rodrigues para ter hoje a sua própria interpretação do fado.
Assim, com cinco álbuns editados, admite alguma mágoa pela forma como o mundo do espetáculo nem sempre é justo com os artistas. No seu caso, tem investido de corpo e alma nos projetos musicais com o propósito de garantir autenticidade sobre o que sente, o que a move e o que lhe faz sentido nesta paixão que é a música.
O seu último trabalho discográfico intitulado “Ponte do Regresso”, foi editado em 2022.
Amor à portugalidade e às tradições
Em conclusão, a ligação profunda ao património e à cultura portuguesa está presente em toda a sua obra. “É um privilégio contribuir para preservar a nossa identidade.” Apesar dos desafios, nunca perdeu o entusiasmo: “Cada pedra que trabalho é única, tal como cada canção que interpreto.”
Hoje, Cristina continua a dividir-se entre a escultura em pedra e os palcos. Acima de tudo, procura mostrar que é possível viver com paixão e autenticidade em duas linguagens artísticas distintas, mas igualmente intensas.
“Sou muito grata por cada momento, por cada obra criada e por cada pessoa com quem me cruzo. Mas a minha jornada nas artes ainda está longe de terminar. Mal posso esperar para ver o que o futuro reserva.”