Francisco Barros da Cunha Leal nasceu a 11 de março de 1951 nas Caldas da Rainha. Cresceu num ambiente simples, onde o essencial nunca lhe faltou. Apesar da modesta condição económica, a sua infância foi marcada por momentos de diversão, como jogar futebol descalço, e pela importância de valores como a honestidade e o respeito. “Nunca fiz nada de errado, embora tenha feito muitas travessuras, mas sempre dentro dos limites”, lembra com carinho. Os princípios que formaram o seu caráter na juventude guiariam toda a sua vida.

Aos 16 anos, Francisco enfrentou uma decisão difícil: ficar em Portugal ou seguir para a França. Em 1967, optou por emigrar, na esperança de escapar ao serviço militar e buscar novas oportunidades. A adaptação à nova vida foi desafiante, mas a sua determinação e vontade de trabalhar ajudaram-no a superar os obstáculos. “Quando chegávamos à França, já tínhamos trabalho no dia seguinte”, conta, embora sentisse saudades da sua terra natal.
Primeiros passos no mercado de trabalho
O primeiro trabalho de Francisco foi numa farmácia, onde começou a desenvolver competências. Mesmo com o francês limitado, a sua coragem e determinação permitiram-lhe assim agarrar a oportunidade. Mais tarde, transitou para o setor de administração elétrica, onde foi ganhando experiência nas obras e na gestão de pré-fabricação. A cada novo desafio, a sua carreira foi ganhando força, até que começou a trabalhar num gabinete de estudos especializado em eletrificação.
Formação e ascensão profissional
Francisco nunca deixou de investir na sua formação. Recomeçou os estudos à noite e aos sábados no Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM), onde fez um curso de Gestão e Economia. Com o tempo, a sua dedicação e o seu talento foram reconhecidos. Tornou-se braço direito de um engenheiro, e mais tarde, acompanhou-o na criação de uma nova empresa. Juntos fundaram uma firma que cresceu, com Francisco a ascender a número dois da empresa.
A criação da Alfa TP
Nos anos 80, a crise política e económica afetou gravemente o setor imobiliário, e a empresa faliu. Contudo, Francisco não desistiu. Em 1986, com antigos colegas, fundou a Alfa TP, uma sociedade cooperativa onde os colaboradores podem tornar-se sócios. Este modelo participativo foi, desta forma, fundamental para o sucesso da empresa, que conta com cerca de 120 colaboradores. Sob a sua liderança, a Alfa TP tornou-se um exemplo de gestão focada nas pessoas, longe do capitalismo tradicional.
Envolvimento no futebol e em causas sociais
Além do trabalho, Francisco sempre manteve uma ligação forte ao futebol. Foi jogador e dirigente nos Lusitanos de Saint-Maur, onde chegou a ser capitão e vice-presidente. A sua paixão pelo desporto também o levou a envolver-se em várias causas sociais, como presidente da Federação das Obras Públicas do departamento do 77 e, mais recentemente, presidente da Academia do Bacalhau de Paris. Em todas estas funções, procurou promover a solidariedade e o trabalho voluntário.
Ligação inquebrável a Portugal
Apesar de viver em França há mais de cinco décadas, Francisco nunca perdeu a ligação com Portugal. O orgulho em ser português é algo que transparece em cada palavra que diz. Para ele, ser português é uma parte essencial da sua identidade, e sempre que vê um compatriota alcançar algo significativo, sente-se profundamente orgulhoso. “Fico muito feliz por fazer parte desse meio”, afirma, com a mesma paixão que o acompanha desde a sua juventude.
União e solidariedade
Embora tenha alcançado muitas conquistas, Francisco tem ainda sonhos não realizados. Um dos seus maiores desejos é explorar Paris de forma mais íntima, caminhando pelas suas ruas e descobrindo novos recantos. Contudo, a sua maior realização é o legado familiar e os valores que transmite aos seus filhos e netos. Para Francisco, os maiores sonhos realizados são aqueles que envolvem a construção de uma família sólida e a transmissão de princípios como honra e honestidade.
Francisco acredita que a chave para o sucesso da diáspora portuguesa está na união. “Devemos continuar unidos, trabalhar juntos para sermos respeitados globalmente”, diz, apelando à força da comunidade. A sua história é a prova de que, com dedicação e princípios sólidos, é possível superar desafios e deixar um legado positivo para as futuras gerações.