É o chamado “filho do bidonville”. Nasceu em 1961 no famoso bairro que tantos portugueses acolheu que chegavam a França para trabalhar, em Champigny-sur-Marne. Perdeu o pai ainda novo, mas recorda-se do seu Versailles Azul e da vontade de sempre querer andar no carro do pai.
Era a única criança no bidonville de Champingy, e acaba por ser o filho de toda a gente. Ainda em criança, esteve numa casa de padres, em Créteil, durante dois anos. Neste período apenas ia a casa durantes dos fins-de-semana, de 15 em 15 dias. Depois foi para Portugal, para a casa de uma tia, porque a mãe não tinha condições para o criar.
A sua vontade era regressar a França, e assim aconteceu. Foi para a casa de uma irmã, na Normandie, onde ainda frequentou dois anos de escola e fez uma especialização de canalizador. Na hora de começar a trabalhar, decidiu ir para Paris e trabalhar juntamente com o seu irmão Valdemar Francisco, na construção. Trabalhava à taxa para o irmão e a construção foi o setor onde dedicou toda a sua vida.
Casou com 20 anos e nessa altura já existia a Tradi-Art, uma sociedade de construção encabeçada pelo irmão. Anos mais tarde, Gilberto Francisco decide rumar sozinho por outro percurso empresarial, sendo consultor de promoções imobiliárias. Ainda em criança, em Portugal, assustou-se com aviões da Força Aérea Portuguesa e sonhava, um dia, poder vir a ser piloto. Hoje, com três filhos e um casamento de 40 anos, o seu sonho é continuar a ser feliz e poder continuar no mundo associativo, onde sempre teve muita presença. “Sonho poder ajudar mais”.
Ajudou o irmão na construção do monumento português em Champigny-sur-Marne e faz parte da associação Les Amis du Plateau, que todos os anos organiza o Festival das Crianças e da Sardinha. Há mais de trinta anos, por ter perdido um filho na altura de Natal, faz questão de vestir o fato de Pai Natal e entregar presentes no Dia de Natal a crianças hospitalizadas. Esta ação já mobilizou muitas outras pessoas e originou a criação da Associação Dimitri Francisco. Agora, a ação realiza-se em hospitais em França e em Portugal.
Para si, é “uma honra ser português. Portugal é o nosso passado, é a nossa tradição, a nossa cultura. Adoro visitar Portugal”. Tanto gosta das tradições portuguesas, que foi o responsável pela criação da Confraria da Sardinha, em Champigny-sur-Marne. Está a criar a Confraria do Azeite, em Thorigny-sur-Marne. E está á procura de outra cidade para criar a Confraria da Broa. A mensagem que deixa aos portugueses é que devem olhar mais uns para os outros, parar com vaidades, e serem mais humanos.