Tinha apenas três anos quando deixou a pequena cidade de Loulé situada no Algarve, por isso, não trouxe recordações de Portugal na bagagem e guarda apenas algumas histórias contadas pelos pais sobre esses tempos. Mais de 30 anos depois, Carlos Fernandes fala português correctamente, mas não consegue esconder o sotaque carregado de quem passou mais tempo fora do que dentro de Portugal.
“O meu pai veio primeiro para Paris e só depois é que a minha mãe veio comigo. Foi uma senhora portuguesa que me deixou passar a fronteira entre Portugal e Espanha em cima de um burro”, conta sorrindo, “eu não me lembro claro, mas a minha mãe explicou-me”. Naquela altura as viagens ainda eram feitas a salto e apesar de Carlos Fernandes não se recordar do caminho percorrido até França, conhece as dificuldades descritas pela família e sabe que foi penoso.
Em França cresceu na região de Rouen e mostrou cedo o jeito para as contas. “Sempre gostei muito de organizar as despesas porque apesar do meu pai e da minha mãe saberem ler e escrever, eu é que fazia esse trabalho em casa desde pequeno”, diz-nos. Com apenas 17 anos fez contas à vida, colocou o bacharelato na mala e foi até Paris. Ainda era novo, mas começou logo a trabalhar num supermercado de produtos portugueses.
Vendeu “tremoços, bacalhau, fruta” e aproximou-se das suas origens. Depois entrou no serviço de contabilidade do Grupo Printemps, mas como viu que para progredir na carreira ainda tinha que percorrer um longo caminho, decidiu acelerar o passo. Regressou às aulas, foi para a Escola Superior de Gestão e Contabilidade (ENGDE), conciliou o trabalho com os estudos, formou-se em Contabilidade e Finanças e foi um dos primeiros portugueses licenciados naquela área em Paris.
“Quando me formei até fui ver se existiam outros luso-descendentes com o mesmo diploma, mas nesse momento éramos poucos. Nós não correspondíamos à imagem típica do emigrante português em França”, acrescenta. Começou a trabalhar sozinho em 2007, mas dois anos depois decidiu criar o seu próprio gabinete de contabilidade. A sociedade “Amparo Conseil” foi fundada em 2009 e actualmente, para além da sede situada no centro da capital, tem também um gabinete na Normandia.
Para além da contabilidade pura e dura, uma das principais funções da Amparo Conseil “é acompanhar os dirigentes das empresas”. O nome “Amparo” inspirado num livro do escritor português Miguel Sousa Tavares tem a ver com isso mesmo. Carlos Fernandes quer amparar as empresas, ajudando a desenvolver e a gerir melhor os seus negócios.
Em 2007 tornou-se membro da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa com um único objectivo. Queria passar a ser “um membro activo na comunidade de empresários portugueses” e actualmente tem “vários clientes do país”. O ano de 2017 também lhe reservou uma nova aventura. Pela primeira vez viajou até às suas origens para trabalhar, investindo na mesma área através de um novo projecto que está localizado em Lisboa: a Conta Up.
Carlos Fernandes é mais um exemplo de um português que viveu mais anos fora do que dentro de Portugal, mas nunca se esqueceu de regressar à terra que o viu nascer e afirma com veemência que “Portugal é um país com futuro”.