José Lopes é uma figura incontornável da história do futsal em França. Mas até alcançar esse estatuto, teve muito sangue, suor e lágrimas. Nasceu a 7 de Maio de 1946 em Vila Nova de Gaia, altura que era o pós-II Guerra Mundial e, por isso, tempos de pobreza e muita dificuldade. José recorda-se da fome que passou, de ir à sopa popular, à Igreja e de andar de pé descalço. Seguiu-se o tempo do Salazarismo em Portugal, mas as condições na sociedade não melhoraram muito. Começou a trabalhar ainda antes dos 14 anos, sendo tipógrafo, actividade que interrompeu para cumprir o serviço militar na Guiné-Bissau, entre 1968 e 1970. Regressado a Portugal, foi-lhe negado o seu posto de trabalho na tipografia, o que revoltou José Lopes. “Estive a servir o meu país e quando cheguei negaram-me o meu local de trabalho”. Recorreu ao sindicato dos tipógrafos e, por essa ação, começou a ser perseguido pela PIDE, que nunca mais o largou. “Nunca fui revolucionário, mas como fui ao sindicato, era visto como opositor ao regime”. José Lopes teve de fugir para França, como muitos outros. Estava traçado que o desporto ia ter uma grande influência na vida de José Lopes. Foi através do futebol que entrou para uma empresa americana em França. Os seus dotes enquanto jogador conquistaram a firma para disputar o campeonato corporativo, um torneio entre empresas. “Comecei do zero, e no fim eu saí da empresa a dirigir toda a gente”. A história do Sporting Clube de Portugal começa quase por brincadeira. Um conjunto de miúdos, no 13º bairro de Paris, desafiou José Lopes a treiná-los para um torneio que estaria a começar. Só houve o tempo de comprar rapidamente 15 camisolas e colocar-lhes os números com um ferro de passar a roupa. A equipa ganhou o torneio e José Lopes decidiu montar uma equipa, recorrendo à prefeitura. Estava no ano 1982, e dava-se assim o início do Sporting Clube de Paris, uma equipa que revolucionou o futsal em França, ganhou campeonatos, taças e chegou às meias-finais da Taça da Europa. José Lopes é feliz por saber que este seu projecto tem continuidade, sendo um dos filhos treinador de futsal e um dos que tem mais títulos em França. Homem de uma grande simplicidade, José Lopes sente-se incomodado com os excessos e estragos de comida que hoje se vê no mundo, pela pobreza que já teve de passar na vida. Gosta de ajudar jovens condenados, dando-lhe uma oportunidade de trabalho colaborativo no Sporting. “Não é por uma asneira que a situação é grave, e nós aqui ajudamos esses jovens”. Tem muita vaidade em ser português, e já a tinha há 50 anos atrás, quando os portugueses eram gozados em França. É com vaidade também que mostra a sua tatuagem de “sangue, suor e lágrimas”, cravada no braço e que retrata a sua ligação à sua pátria. José Lopes recebeu um diploma do general António de Spínola e foi recentemente condecorado com a Medalha de Mérito do Governo Português, entregue pelo Secretário de Estado do Desporto.