Valdemar Francisco nasceu num Portugal marcado pela escassez e pela dureza. Cresceu num ambiente familiar difícil, com um pai ausente e uma mãe sobrecarregada. Apesar disso, nunca deixou que as circunstâncias o definissem. Desde cedo, aprendeu o valor do trabalho e desenvolveu uma força interior notável. Aos 72 anos, continua a inspirar pela forma como superou desafios e transformou a dor em missão.

Chegou a França com 6 anos de idade. A vida não foi de todo fácil. Aos 9 anos, trabalhou em mercados para ajudar a mãe. Cresceu e começou a trabalhar na construção civil. Enfrentou o frio, o preconceito e a invisibilidade social.
Destacou-se ainda nos estudos, saltou dois anos escolares e começou a investir em imóveis ainda muito jovem. Também, emancipou-se aos 18 anos, casou aos 19 e construiu uma família com o objetivo claro: garantir que os filhos nunca passassem pelo que ele passou.
Um homem de ação, sempre com os outros no horizonte
O seu percurso é marcado, portanto, pelo empreendedorismo e por um forte compromisso com causas sociais. Deste modo, não viveu apenas para si. Sempre dedicou tempo e energia à comunidade portuguesa em França, sendo um rosto presente em projetos de memória, solidariedade e inclusão. “Sigo em frente, sem baixar os braços”, diz, refletindo uma postura resiliente e determinada
“Ajudar não nos tira nada. Não rouba o pão a ninguém”
O dever da memória: um projeto de vida
A memória da emigração portuguesa é um dos seus maiores compromissos. Assim, depois de contribuir para o livro O Dever da Memória e para a criação de um monumento em Champigny-sur-Marne, Valdemar Francisco está hoje envolvido na produção do documentário Para Além do Silêncio, em parceria com o realizador Christophe Fonseca. Em suma, este projeto resgata histórias de vida de emigrantes que viveram em condições precárias e pretende eternizar um capítulo muitas vezes esquecido da história portuguesa.
Pela inclusão e dignidade das pessoas com deficiência
A sua ação estende-se ainda à causa da inclusão. Defende assim mudanças profundas na forma como a sociedade encara a deficiência. Neste contexto, organizou recentemente eventos em Hendaye em homenagem a refugiados e emigrantes, e está a preparar um congresso internacional sobre deficiência, com edições em Créteil e, futuramente, no Porto. “Ajudar não nos tira nada. Não rouba o pão a ninguém”, afirma com convicção.
Identidade, esperança e responsabilidade
Mesmo com problemas de saúde, Valdemar Francisco mantém-se ativo e cheio de planos. Orgulha-se das suas raízes portuguesas, compôs uma canção para os emigrantes e acredita no poder da memória e do bom senso para mudar o mundo. Preocupa-se com os tempos atuais e apela à lucidez coletiva: “Os extremismos não têm futuro. O bom senso precisa de vencer”.
Em suma, Francisco Valdemar não é apenas um homem de causas, é uma lição viva de como transformar dificuldades em força, e experiências pessoais em pontes de solidariedade. Vive assim com coerência, coragem e, acima de tudo, com uma alma generosa.