Em Bordéus, França, o cientista português Hugo Oliveira comanda uma equipa de investigação dedicada a uma das áreas mais promissoras da medicina moderna: a bioimpressão de tecidos humanos. No centro ART BioPrint, uma das instituições biomédicas mais respeitadas do país, lidera projetos que aliam tecnologia de ponta à esperança de tratamentos inovadores.

A vocação pela ciência surgiu cedo. Hugo Oliveira lembra-se bem das conversas com os pais, ainda em criança, onde já expressava o desejo de ser investigador. Formou-se em Bioquímica e seguiu uma carreira internacional, até alcançar o cargo de Investigador de 2.ª classe (IR2), um estatuto sénior no sistema científico francês.
A sua investigação destaca-se por ter uma vertente prática muito acentuada. “Sou responsável por uma linha dedicada à bioimpressão, em que usamos tecnologia robotizada para criar tecidos com células humanas organizadas em estruturas tridimensionais”, explica.
Bioimpressão: do laboratório para a clínica

No laboratório, a equipa trabalha em duas grandes frentes. Por um lado, desenvolve modelos celulares in vitro, que permitem estudar o comportamento de tecidos humanos e testar novos medicamentos. Por outro, aposta na criação de tecidos para implante, com aplicações na regeneração de ossos, cartilagem, pele e até do sistema nervoso central.
Apesar da complexidade técnica, o foco mantém-se claro: criar soluções reais para problemas clínicos. “Queremos produzir tecidos funcionais com utilidade terapêutica”, reforça.
Projetos com impacto e parcerias internacionais
Hugo Oliveira lidera assim mais de 20 projetos de investigação, nacionais e europeus, e mantém colaborações ativas com instituições de Espanha, Áustria e Taiwan. Um dos projetos que mais o marcou foca-se nos primeiros mecanismos do cancro do pâncreas. “Esse trabalho foi particularmente importante para mim”, confessa.
Além disso, o grupo estuda tumores como o glioblastoma e o cancro da mama, sempre em articulação com médicos — que representam metade da equipa — garantindo uma ligação direta à realidade hospitalar.
Inspirar a nova geração de cientistas

A componente pedagógica é também uma prioridade. Hugo Oliveira supervisiona assim estudantes de vários níveis e nacionalidades, num ambiente de trabalho multicultural. “Temos alunos dos Estados Unidos, Itália e outros países, em estágios integrados nos seus doutoramentos”, revela.
Ainda assim, reconhece os desafios. “É cada vez mais difícil encontrar jovens motivados para a ciência, especialmente depois da pandemia”, afirma. Por isso, aposta no recrutamento internacional.
Vida entre países e dedicação total
Dividido entre a vida familiar e a científica, Hugo Oliveira encontrou em França um espaço de crescimento. “Não é que lá fora seja mais fácil, mas existem mais oportunidades e melhores condições de financiamento, sobretudo na área biomédica”, sublinha.
Assim, com os pés firmes no laboratório e os olhos postos no futuro, Hugo Oliveira mostra como a ciência portuguesa continua a fazer história além-fronteiras, imprimindo células, tecidos e, acima de tudo, esperança.