O lusodescendente e chefe pasteleiro da padaria “Aux Delices du Palais” Christian Teixeira ganhou em julho o terceiro lugar no Grande Prémio da Pastelaria de Paris, uma distinção que se vem juntar aos títulos de melhor baguete de Paris ganhos pelo pai e pelo irmão.
A constante de todos os bairros de Paris é a tradicional padaria situada no canto da rua onde se serve desde a tradicional baguete à mais mirabolante criação da pastelaria francesa. Na “Aux Delices du Palais”, padaria fundada por um português no 14.º bairro e que é agora gerida pelos filhos, a tradição vem acompanhada por vários prémios.
“Eu gosto mesmo de trabalhar numa padaria, porque é aqui que a pastelaria tem a sua verdadeira representação porque temos os grandes clássicos. Trabalhamos com matérias modestas e não é por ter ganho este prémio que vou aumentar os preços, quero que os meus clientes possam ter qualidade, mas a um preço razoável”, disse Christian Teixeira, luso-descendente e chefe pasteleiro da padaria “Aux Delices du Palais”, em declarações à Agência Lusa.
O pai chegou a França nos anos 60 vindo de Fafe, formou-se em padaria e pastelaria e abriu em 1993 a “Aux Delices du Palais”, ano do nascimento de Christian Teixeira. A primeira distinção chegou em 1998 com o prémio da Melhor Baguete de Paris, distinção que foi repetida em 2014 pelo irmão de Christian, chefe de padaria. Este é um dos títulos mais importantes para uma padaria parisiense, já que a torna passagem incontornável no roteiro dos amantes deste pão tipicamente gaulês.
Agora, com 26 anos, é a vez de Christian. Chegado há três ano à padaria do pai, tem vindo a renovar pastelaria mais tradicional. Em julho ganhou o terceiro lugar do Grande Prémio da Pastelaria de Paris, organizado pela Câmara Municipal da capital francesa e à sua frente ficaram apenas hotéis de luxo e pastelarias de autor.
“Disseram-me logo ao telefone: você é a primeira padaria de bairro a ganhar, ficou em terceiro lugar, mas é como se fosse o primeiro entre todas as padarias de Paris. É difícil fazer concorrência à pastelaria de hotel, porque os produtos que eles usam são muito mais caros. Aqui um bolo a 10 euros não conseguimos vender”, explicou Christian Teixeira.
O percurso deste luso-descendente começou na padaria dos pais, observando o pai e servindo os clientes, e passou depois para a formação em pastelaria na Escola Ferrandi, uma das mais prestigiadas de Paris, tendo depois feito alguns estágios e trabalhado noutras padarias.
“[O que mais gosto é] a criação, a criatividade, estar sempre a inventar. Depois vemos os clientes a comprarem os nossos bolos com um sorriso e é muito bom”, explicou o pasteleiro.
Para este concurso, Christian Teixeira apresentou um bolo original chamado Trop Chou (em que chou diz respeito à massa de profiteroles, mas chou pode também ser querido, ou seja, muito querido). O pasteleiro luso-descendente aliou a mousse de chocolate Dulcey ao caramelo e à maçã com canela numa arquitetura arriscada coroada por uma Torre Eiffel em chocolate.
“Inspiro-me nos melhores. Tenho muitos livros e vejo muitos vídeos. À noite sonho com os bolos e, se for preciso, passo o dia a tentar fazê-lo tal como no meu sonho”, indicou Christian Teixeira.
Quanto à pastelaria portuguesa, ainda não seduziu o luso-descendente apesar de vender pastéis de nata na padaria. “Só vendemos pastéis de nata, conhecemos poucas coisas que sejam interessantes para aqui. Este ano vou pela primeira vez ao Norte e descobrir o que é verdadeiramente Portugal e a pastelaria Portugal. Em França há uma pastelaria mais refinada, em Portugal é uma pastelaria mais consistente”, afirmou.
Os projetos com Portugal passam talvez pela abertura de uma pastelaria francesa em Lisboa, para “a finesse” francesa aos lisboetas e aos franceses que se têm mudado para a capital francesa nos últimos anos.
FONTE: LUSA