A exposição As Marias de Abril, inaugurada a 4 de dezembro na Maison du Portugal – André de Gouveia, em Paris, celebra as mulheres que desempenharam um papel essencial na Revolução dos Cravos. A artista luso-americana Melanie Alves criou esta mostra para destacar as lutas dessas mulheres, tanto públicas como silenciosas, que ajudaram a construir a liberdade em Portugal. A exposição apresenta 21 peças que combinam técnicas clássicas e contemporâneas, oferecendo uma visão única sobre o legado feminino na Revolução. A exposição ficará aberta ao público até 9 de fevereiro, convidando todos a refletirem sobre o papel das mulheres nesse contexto histórico.

As Marias de Abril vai muito além de uma simples homenagem artística. A exposição estabelece um diálogo entre o passado e o presente, dando visibilidade às mulheres que lutaram pela liberdade. Ao mesmo tempo, a mostra explora o papel fundamental dessas mulheres na Revolução dos Cravos, muitas vezes deixadas de fora da narrativa histórica, centrada em homens e militares. Melanie Alves, a criadora da exposição, afirmou à LusoPress que a sua missão foi trazer essas mulheres à luz. “A Revolução é frequentemente vista pelo olhar masculino, mas o cravo também é feminino. Decidi resgatar essas mulheres”, disse a artista.

Entre as mulheres retratadas, destacam-se figuras como Helena Pato, Natália Correia e as Três Marias (Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta). Contudo, Melanie Alves também incluiu mulheres menos conhecidas, como Conceição Ramos, que liderou a sindicalização das empregadas domésticas durante o Estado Novo. Melanie Alves explicou: “Escolhi mostrar as Marias de Abril, mulheres de origens e histórias diferentes que merecem ser reconhecidas.”
A arte como ferramenta de mudança
Cada uma das 21 obras que compõem a exposição explora de forma única o dia-a-dia das mulheres no Estado Novo. Nesse contexto, Melanie Alves subverte objetos domésticos tradicionais, como raladores, chávenas e máquinas de costura, transformando-os em símbolos de resistência e luta. Usando tons de vermelho, as peças intercalam o real e o surreal, proporcionando uma experiência que incita reflexão sobre os papéis femininos na sociedade. De fato, essa abordagem não só questiona o passado, mas também provoca uma reflexão sobre o presente.

Além disso, a artista utilizou materiais reciclados e objetos de segunda mão em muitas das suas obras, reforçando o seu compromisso com a sustentabilidade. Melanie Alves acredita que a sua arte é uma forma de dar nova vida aos materiais esquecidos, assim como muitas mulheres foram invisibilizadas pela história. “Reciclo elementos que a sociedade rejeita, tal como fizemos com as histórias dessas mulheres”, comentou a artista. Essa abordagem inovadora é, portanto, uma metáfora do processo de resgate dessas histórias esquecidas.
A música de Cátia Oliveira: Reflexão sobre a invisibilidade feminina
A inauguração da exposição foi marcada pela atuação da cantora Cátia Oliveira, também conhecida como A Garota Não. A sua música, que mistura feminismo e intervenção social, complementou perfeitamente a exposição, intensificando a mensagem de transformação e resgate das mulheres silenciadas. A cantora expressou a sua admiração pela iniciativa de Melanie Alves e destacou a importância de dar visibilidade a mulheres históricas, mas também a tantas outras que permanecem desconhecidas. “Esta exposição é crucial porque traz à tona figuras femininas esquecidas. Ela nos permite refletir sobre a força dessas mulheres”, afirmou Cátia Oliveira.

Por outro lado, a cantora também abordou a persistente desigualdade entre homens e mulheres. “Ainda enfrentamos uma grande disparidade no reconhecimento do trabalho feminino”, disse. Cátia Oliveira defendeu que, embora a transformação social esteja em curso, é essencial continuar a desafiar as normas e manter viva a luta pela igualdade. “A mudança é um processo contínuo, e a arte tem o poder de acelerar esse movimento”, conclui.
Melanie Alves: A artista comprometida com a arte e a sociedade
Melanie Alves nasceu nos Estados Unidos e cresceu entre duas culturas, o que influenciou profundamente sua arte. Formada em Belas-Artes, a artista foca em contar histórias invisíveis, especialmente de mulheres. O seu trabalho combina técnicas tradicionais e contemporâneas, sempre com um olhar crítico sobre as normas sociais. Além disso, Melanie Alves é uma ecoartista, utilizando materiais reciclados e reaproveitando objetos descartados para criar as suas obras. Dessa forma, a artista promove tanto a sustentabilidade quanto a reflexão sobre os papéis das mulheres na sociedade.

A exposição As Marias de Abril convida o público a refletir sobre o passado e as lutas que ainda persistem. Fica disponível até 9 de fevereiro em Paris e, depois, irá percorrer outras cidades. Melanie Alves desafia os visitantes a reconsiderar a história, a dar visibilidade às mulheres esquecidas e a reconhecer as que continuam a lutar. O seu trabalho e a sua mensagem evidenciam, assim, a importância de manter viva a reflexão sobre a igualdade e o papel das mulheres na sociedade. Com isso, o legado da Revolução dos Cravos será perpetuado de forma mais inclusiva e justa.