Corria o ano 1956 e nascia Deolinda Oliveira na freguesia de Fernão Joanes, pertencente ao concelho da Guarda. Desses tempos e desse lugar recorda com saudade a infância passada na quinta com os pais onde guardava as ovelhas. Não conseguiu estudar e integrou jovem uma fábrica de lanifícios onde trabalhou durante sete anos. Com 21 anos Deolinda casou e acompanhou o marido numa nova vida em França. Recorda que a adaptação não foi fácil. “O início foi muito complicado, pois não sabia falar a língua, não trabalhava e engravidei pouco depois de cá estar. Morava no departamento 77, num castelo que me fazia lembrar a quinta dos meus pais, mas era isolado. Acabava por me sentir sozinha”, recorda. Estes factores levaram-na a ir morar para o centro de Paris, com o objectivo de arranjar um trabalho. Assim foi, altura em que entra no sector da restauração. Neste meio trabalhou cerca de 40 anos, até chegar à reforma, tendo passado apenas por dois restaurantes diferentes. Nunca teve grandes sonhos para a sua vida, mas sente-se realizada pelo caminho que traçou na restauração. “Quando entrei quase só sabia cozer batatas”. Depois de uma vida dedicada ao trabalho, Deolinda divide agora o seu tempo entre Portugal e França, gozando um pouco da reforma. Mas ainda tem sonhos por concretizar: “gostava de escrever um livro de receitas de cozinha, quero viajar mais e descobrir outras coisas”. O mundo associativo tem feito parte da sua vida. “Nos anos 90 comecei a descobrir o mundo associativo, tendo entrado para uma associação em Clichy. A partir daí fiz parte da CCPF, da Casa dos Arcos, sou ainda tesoureira da Associação Beirões de França, ajudo no que posso a Santa casa da Misericórdia e a Cap Magellan”. Para si, ser portuguesa, é um orgulho e mostra o seu patriotismo agora mais que nunca. “Sempre misturei as duas línguas, mas agora acabo por falar mais o português, mesmo quando estou em França”. Aos portugueses, deseja que sejam bons uns para os outros.