Aires cresceu e foi educado no distrito de Leiria, em Pombal. O pai já era emigrante em França e estava com ele apenas nas férias. Na bagagem trazia a saudade e algumas prendas que ainda hoje recorda com um sorriso. “Uma vez ele levou-me duas bicicletas dentro do comboio para me dar de prenda. Naquele tempo eram poucos os que tinham uma bicicleta em Portugal. Eu já emprestava e alugava as bicicletas quando era pequenito”, conta. Previa-se assim um jeito para o negócio que, mais tarde, veio mesmo a confirmar-se. Aires seguiu os passos do pai assim que conseguiu. Via nele uma inspiração e procurou ser sempre “bem alinhado” como ele desejava. Em 1971, com apenas 17 anos, partiu para França e, apesar da tenra idade, começou logo a trabalhar na construção. “Cheguei a um domingo, no fim de Agosto, e comecei a trabalhar logo na segunda. Já tinha arranjado trabalho nas obras. A primeira coisa que eu aprendi a fazer foi a colocar azulejo”, recorda. Durante alguns anos, ainda trabalhou num restaurante nos arredores de Paris, mas não foi na restauração que se lançou melhor por conta própria. Na França começou a construir casas e criou os pilares para uma empresa e família sólida. Aires formou uma equipa com a esposa. Juntos, encontraram a táctica certa e criaram a sociedade “ArchiBat”. “Como a minha mulher era arquitecta e eu já percebia de construção, foi só avançar. A minha esposa fazia o projecto, eu construía e vendia as casas depois de já estarem feitas. Nunca trabalhava para particulares”, recorda. Manuela idealizava, ele executava. “A minha esposa tinha uma arquitectura fora do normal, muito trabalhosa, mas muito bonita no final”. Mais tarde, aventuraram-se na construção de prédios e procuraram deixar uma marca bem portuguesa no primeiro trabalho. A residência Magellan foi baptizada pelo emigrante e é uma homenagem ao célebre navegador português Fernão de Magalhães. “Eu gosto de ser português a 100%. Os nossos navegadores foram fortes e descobriram muitas coisas, mas nós também fomos fortes e viemos construir uma boa parte da França”. Já emigrou há 45 anos, mas continua a ajudar freguesias e associações do concelho de origem, em Pombal. “Não posso ir a Portugal sem ir à minha terra. Fiz isso uma vez e fiquei doente”, confessa. Apesar de ainda ter vários prédios alugados e novas construções no horizonte, encerrou a empresa há alguns anos. Neste momento, dedica-se ao golfe e é um grande coleccionador de carros antigos. As colecções, tal como os sonhos, não param de crescer e confessa que gostava de ter até um museu no Algarve. Com mais de 60 anos garante, que é um homem feliz e termina a conversa lembrando: “tive sorte talvez, mas também a procurei”.