Uma exposição itinerante pretende assinalar os 60 anos da comunidade portuguesa na Alemanha. A mostra reúne quase duas dezenas de cartazes com temáticas como o associativismo, religião ou a gastronomia. E começou este domingo em Heinsberg.
Esta mostra cronológica, com um trabalho de pesquisa que começou em outubro, marca a assinatura do acordo bilateral entre Portugal e a Alemanha em 1964. Durante duas semanas estará no Volksbank de Heinsberg. Logo em seguida, poderá ser vista durante todo o ano em vários pontos do país.
“Queremos abordar temas diferentes”, apontou o historiador Nélson Pereira Pinto, membro do Gri-Dpa. Este é o Grupo de Reflexão e Intervenção da Diáspora Portuguesa na Alemanha e por conseguinte responsável da exposição.
Portugueses e alemães assinalam 60 anos da diáspora na Alemanha
“Começámos com a emigração portuguesa em geral, e em seguida abordamos o caso alemão. Principalmente, as razões que levaram os portugueses a emigrar para a Alemanha Como por exemplo, as condições de vida em Portugal e a necessidade de a República Federal da Alemanha contratar trabalhadores de outros países”, destacou o autor desta investigação, feita em conjunto com Anna-Katharina Glettenberg.
Alfredo Stoffel, presidente do Gri-Dpa, lembra que muitos dos portugueses que chegaram à Alemanha nos anos 1960 e 1970. Vinham com uma “mala de cartão”.
“Muitos eram pobres. Não tinham conhecimentos da língua, mas geraram filhos e netos que se integraram na sociedade. E atualmente, são quadros muito válidos”, sublinhou, em declarações à Lusa.
Programa de recrutamento levou portugueses até à Alemanha
Devido à escassez de mão-de-obra, nos anos 1950, o Governo da República Federal da Alemanha recrutou trabalhadores temporários no estrangeiro. Uma ação realizada através do programa “Gastarbeiterprogramm” para que o país fosse reconstruído.
Este programa foi iniciado através de acordos de recrutamento bilaterais com a Itália, em 1955. Em segundo, surgiu a Grécia e Espanha, em 1960. Logo depois, Turquia, em 1961, e Marrocos, em 1963. Portugal foi em 1964, e a Tunísia no ano seguinte, em 1965. E por fim, a antiga Jugoslávia, em 1968.
“A qualidade de vida não era muito boa. Os primeiros emigrantes, nos anos 1960 e 1970, trabalhavam e viviam em más condições, poucos portugueses falavam alemão, não havia internet, havia uma grande dificuldade de integração social, o que também explica o aparecimento de associações portuguesas na Alemanha”, recordou Nélson Pereira Pinto à Lusa.
Tradições e costumes portugueses em destaque
Por outro lado, o historiador destacou a importância das associações que representavam um ponto de encontro. Era o sítio “onde as pessoas falavam sobre os seus problemas, e se entreajudavam, mantendo a ligação viva com Portugal”.
Ao mesmo tempo, esta exposição explora temas como a religião e as missões católicas, os sindicatos, a gastronomia e a restauração.
Armando Rodrigues de Sá foi o imigrante “um milhão” na Alemanha. O português, nascido em Nelas, no distrito de Viseu, chegou à estação de Köln-Deutz em 10 de setembro de 1964, juntamente com um grupo de 1.106 trabalhadores estrangeiros, dos quais 933 eram espanhóis. Foi recebido em festa, na presença das autoridades alemãs, e foi-lhe oferecida uma motorizada Zundapp.
“A Alemanha deu-nos uma oportunidade e nós, com o nosso esforço e trabalho, tornámo-la um bocadinho mais rica”, realçou Alfredo Stoffel.
Para o presidente do Gri-Dpa, a comunidade portuguesa na Alemanha “está integrada”, soube “aproveitar os desafios que lhe lançaram” e tem “o seu lugar na história” daquele país.
JYD // VM (Lusa)