Sábado, Abril 20, 2024
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Fernando Amorim: “é o fim do mundo como o conhecemos”

A letra da música dos REM que trauteávamos em 1987 tinha como refrão “é o fim do mundo como o conhecemos”. Naquela década, a minha geração deambulava alegremente entre a queda do Muro de Berlim, os álbuns dos Pink Floyd, o live AID do Bob Geldof, a adesão à CEE e o Mundo parecia ser um infindável lugar onde todos os sonhos se realizariam e o inconformismo próprio da idade o seu maior catalisador.

 

Hoje, adultos, conscientes de um Mundo bem diferente, onde a luta entre o Bem e o Mal já é mais nebulosa, sem fronteiras e princípios bem definidos, somos tolerantes com a injustiça e deixamos de acreditar que podemos fazer a diferença ou mudar o Mundo.
A maturidade sequestrou a ingénua inquietude e trouxe consigo o confinamento da rebeldia. O pulsar da vida e a energia que nos habitava desde criança parece esmorecer e começa a dar lugar a um espaço mais sombrio e recôndito. Desenvolvemos este pseudo entendimento de um Mundo mutante, que achamos conseguir compreender e interpretar na plenitude. É uma realidade cruel! Tendemos a encontrar um espaço cognitivo em que nos auto explicamos que as causas pelas quais lutávamos acerrimamente, eram próprias da idade, algumas delas, simplesmente pueris. Mas que não passavam disso, causas de uma adolescência e juventude mais apaixonada. Crescemos e viramos a face à escoliose moral. Assistimos, já sem revolta, à crescente intermitência no carácter humano.
Chegados aqui, o mundo como o conhecíamos acabou. Começar de novo e construir um novo normal parece paradoxalmente estimulante. Mas nada se vai resolver se persistirmos nos erros do passado. A busca de um propósito na vida deve ser reformulada na experiência de vulnerabilidade que vivemos, e que apela ao que temos de mais íntimo. Nas palavras de António Gedeão o propósito surge em forma de poema e não tem idade nem tempo.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

A realidade nas organizações não é muito distinta, temos pessoas, personalidades, histórias de vida, emoções, e sonhos. O propósito que o líder cria tem que estar envolvido no sonho e ser maior que o ego, é a razão de ser. O contexto em que vivemos é de mudança na sua forma mais bruta, a incerteza na expressão mais contundente, o risco omnipresente, é a soma de todos os medos. E nós, pessoas, não passamos de seres imperfeitos, vulneráveis, que há muito vivemos numa redoma de conforto, na falsa ilusão de segurança e na constante expectativa de que corra sempre tudo bem. Liderar neste contexto significa alcançar a alma das pessoas, instilando-lhes um sentimento de compromisso e propósito no enfrentar dos desafios que vão surgir no horizonte. Será difícil, o momento é de tremenda adversidade mas também de coragem e de resiliência emocional.
Precisamos de líderes, mais que nunca!
Mulheres e Homens que saibam e arrisquem caminhar pelos novos territórios, que demonstrem naquilo que dizem e fazem que são autênticas e vivem uma vontade inabalável de cuidar das pessoas e das suas organizações.

Às escuras, ninguém vê nada, repete-se a escuridão que tende a ampliar-se e a confundir as pessoas. O líder tem que conciliar na palavra, na ação, e no exemplo, realismo com optimismo. Tem que liderar a partir da frente e ser capaz de olhar com esperança. Fazendo-no com compaixão, servindo o propósito! Construindo o futuro no sonho mais alto, mesmo que o preço da liberdade seja a solidão.

É o fim do mundo como o conhecemos, mas há um novo em construção, e como em qualquer nascimento, todos os sonhos se oferecem para que possamos pular e avançar como bola colorida entre as mãos de uma criança.

Por: Fernando Amorim 

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