O livro Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência foi apresentado na Casa de Portugal – André de Gouveia, em Paris, a 21 de setembro. Primeiramente, a obra foi escrita pelo historiador Daniel Bastos e pelo ativista Fernando Mariano Cardeira. Por um lado, retrata de forma intensa a resistência ao Estado Novo. E por outro lado, também a emigração portuguesa e a vida social das décadas de 1960 e 1970, através de fotografias do período.
Baseado no espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, que foi desertor militar e exilado político, o livro reúne imagens a preto e branco capturadas entre 1968 e 1973. Um tempo em que as fotografias desse tipo eram raras. A colaboração entre o desertor e o historiador foi crucial para a realização do projeto. Fernando Mariano Cardeira partilhou à LusoPress como surgiu esta iniciativa. “Este livro nasce de um espólio fotográfico que possuo, composto por imagens que sempre despertaram interesse, mas que nunca tinha conseguido publicar. A proposta de Daniel Bastos para editar a obra foi uma oportunidade que não podia deixar passar. Estou muito satisfeito com o resultado.”
Memórias da Ditadura: resistência e emigração portuguesa
Daniel Bastos destacou que a criação do livro só foi possível graças ao valor do espólio fotográfico de Cardeira. Ele explicou: “O nosso trabalho começou há seis anos, quando conheci Fernando e descobri o seu acervo sobre a ditadura. Desde então, desenvolvemos uma relação de amizade e confiança. A análise cuidadosa desse espólio revelou documentos inéditos. É disso exemplo, fotografias que retratam a pobreza em Portugal, o embarque de tropas para a guerra colonial e a emigração clandestina para França.”
A obra inclui cerca de 350 fotografias com grande valor documental, mostrando a vida em Portugal naquela época, desde a luta dos estudantes até as dificuldades dos bairros de lata. Daniel Bastos ficou encarregado da seleção das imagens, incluindo a fotografia de capa. Ele explicou: “Analisámos os temas abordados nas fotografias para contar uma história que reflete as vivências e cicatrizes deixadas pela ditadura.”
O historiador procurou ir além de uma simples coleção de imagens, almejando oferecer um entendimento mais profundo sobre esse período. Ele comentou: “Este livro serve como testemunho histórico, especialmente agora que celebramos os 50 anos do 25 de Abril. Oferece uma análise sobre a sociedade, a emigração e a resistência de há cinco décadas. Mais do que um relato, é uma obra que alerta e informa as novas gerações sobre um passado que muitos não conhecem bem.”
“Pretendemos prestigiar a comunidade portuguesa em França”
Por conseguinte, num ano em que se assinala o 50.º aniversário da Revolução dos Cravos, a obra também homenageia Fernando Mariano Cardeira e outros que se opuseram ao regime. Paris, um dos destinos de muitos que desertaram da guerra colonial, continua a ser um centro importante para a comunidade luso-francesa, que preserva a identidade portuguesa e defende valores de liberdade.
Daniel Bastos concluiu: “Com esta apresentação, pretendemos prestigiar a comunidade portuguesa em França, que tem contribuído significativamente para as relações culturais entre Portugal e França.” Ademais, o evento contou com a presença de Paulo Pisco, deputado da Assembleia da República, que apresentou a obra. O livro encontra-se à venda em livrarias em Portugal, bem como nas plataformas online de Daniel Bastos e Fernando Mariano Cardeira, e estará disponível junto da comunidade portuguesa em França.
