Abílio Lourenço é natural de uma aldeia de Ponte de Lima. Em 1980 emigrou para França como muitos portugueses e transformou-se num verdadeiro “homem dos 7 ofícios”. O primeiro trabalho que encontrou foi nas vindimas, mas depois seguiram-se várias profissões. Em Paris seguiu os passos de muitos emigrantes e foi parar à construção civil. Em 1981 conheceu um patrão que lhe ofereceu trabalho, legalizou-o no país e arranjou-lhe todos os papéis necessários para a sua estabilidade. Abílio lutou, procurou sempre alcançar melhores condições de vida e nunca baixou os braços. Mais tarde passou pela limpeza, ainda esteve ligado à pintura apesar de não se considerar um pintor profissional e, há 22 anos, que tem uma empresa associada à cerâmica. Pelo caminho ainda se ligou à restauração, mas fez apenas isso para ajudar um amigo. Em 2006 o primeiro patrão que teve em França enfrentava alguns problemas e desabafou com Abílio Lourenço. Apesar de não ter grandes possibilidades, o empresário sentiu que podia e devia ajudar quem também já lhe tinha estendido a mão, acabando por comprar um restaurante que ele tinha. Abílio não percebia nada de restauração e aquela não era definitivamente a sua área, mas ainda hoje diz “que por um amigo é capaz de fazer tudo” e, se voltasse atrás, garante que “faria o mesmo”. Durante o seu percurso, foi aconselhado a apostar na cerâmica e actualmente confessa que esse “foi um bom conselho” e uma aposta ganha. No início, quando começou, todos os funcionários da empresa eram portugueses, mas actualmente em 40 colaboradores, apenas um terço tem nacionalidade portuguesa. O empresário recorda que quando chegou a Paris na década 80 ser português era considerado uma mais-valia, sobretudo para encontrar trabalho. Apesar de ter uma grande admiração pelas suas origens situadas no norte de Portugal, Abílio pensa que não teria alcançado a mesma estabilidade se tivesse continuado no país. “Se Portugal oferecesse as condições que nós tivemos quando chegámos aqui, nós não precisávamos de ter vindo. Antes de mim já vinham portugueses porque o país não oferecia o mesmo que a França e, quem diz a França, diz também outros países. Eu considero que Portugal é um país fantástico, é o meu país e eu procuro falar sempre bem dele, mas infelizmente não me deu a mim, nem a milhares de portugueses aquilo que nós queríamos”, afirma. Actualmente, Abílio Lourenço ainda realiza vários investimentos em Portugal, associou-se em França a uma empresa portuguesa que vende produtos de higiene e de limpeza e recentemente abriu juntamente com três amigos um Restaurante que serve especialidades portuguesas em Ivry-sur-Seine, nos arredores de Paris, chamado “Cantinho do Lima”. Apesar de dar a conhecer Portugal através deste e de outros trabalhos, Abílio afirma que “não espera nenhum reconhecimento do país”, confessa que já ajudou várias pessoas e associações, mas também não o faz para dizer em voz alta e opta sempre pela discrição. Termina a entrevista com uma mensagem que resume bem o propósito dos Portugueses de Valor: “Em França os portugueses lutaram muito e são, como vocês dizem, pessoas de valor”.
