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Festa Campelos: Uma romaria centenária repleta de devoção e muita animação!

As tradições querem-se eternas e na aldeia de Campelos a população tem feito tudo para garantir que a história não fica esquecida nos livros e na memória dos mais antigos. Entre os dias 29 de setembro e 4 de outubro foram várias as pessoas que se reuniram em Campelos para mais uma festa anual que assinala a romaria ao Santuário de Nosso Senhor Jesus dos Aflitos. 

“Esta festa nasce na sequência de uma promessa que o povo fez por causa do surto de cólera que registou o maior pico em 1856. Por esse motivo, e apesar de não existir um registo sobre o início destas Festas, acreditamos que o Círio terá começado próximo dessa altura”, explicou José Damas Antunes, Presidente da União de Freguesias de Campelos e Outeiro da Cabeça, e historiador. 
Este ano, Luso Press visitou Campelo no sábado, dia 30 de setembro, um dos principais dias desta festa que começou com a parte religiosa, uma missa solene na paróquia de Campelos com a participação do agrupamento de escuteiros e depois a procissão com a banda de música da Casa do Povo de Campelos. 
Ao sabor tradicional das brendeiras, nome dado ao pão com chouriço confecionado manualmente e cozido em forno de lenha, a chegada da noite a Campelos trouxe música e animação para todos os gostos e faixas etárias. No sábado, um dos momentos mais aguardados foi um nome sobejamente conhecido entre a comunidade emigrante: Claúdia Martins e os Minhotos Marotos. Um projeto que começou em 2009 após um ano de ensaios entre cinco amigos. “Fomos para a estrada sem saber como seria a recetividade do público, até porque tinha 17 anos quando lancei este projeto. Quando começo a ir às comunidades portuguesas sou logo muito bem aceite e hoje atuamos de norte a sul do país, ilhas e no estrangeiro”, disse a artista. Em 2024, Cláudia Martins celebrará 15 anos de carreira e irá lançar um livro sobre a concertina, a desgarrada e as tradições relacionadas com a música popular portuguesa que a têm acompanhado ao longo destes anos. “Comecei a cantar à desgarrada aos nove anos. Mas um ano antes comecei a tocar concertina, depois de ter assistido a uma aula do meu irmão por brincadeira pedi aos meus pais para que me colocassem nas aulas porque queria aprender também”, recordou Cláudia Martins. 
A noite em Campelos terminou com os DJ’s Ricardo F e Carito na tenda jovem e os One Vision que prestaram um tributo aos imortais Queen no palco princial da festa. 
Campelos é uma freguesia do concelho de Torres Vedras com cerca de 1900 habitantes e uma larga comunidade emigrante. As Festas em honra de Nosso Senhor Jesus dos Aflitos acabam por ser um motivo de celebração e reencontro entre gentes da Terra, familiares e amigos que se repete ano após ano. Para o presidente da UF de Campelos e Outeiro da Cabeça, o mais importante é não deixar cair no esquecimento a tradição da terra que tanto tem unido gerações e perpetuado o sentimento de comunidade e pertença entre todos. 
“Campelos é a mina vila. É o lugar onde passei a minha infância e onde aprendi as bases da vida. Não esqueço a minha terra, esta é a minha capital”, disse Estefânio Jorge, emigrante em França que deixou ainda uma mensagem a todos os portugueses na diáspora: “O mais importante é não esquecermos a nossa terra e as nossas tradições, são elas que nos fazem viver”. 
O domingo, dia 1, é outro dos dias mais importantes desta Festa. O autarca de Campelos explicou à Luso Press como a vila se enche para o transporte do Círio (vela) de Campelos até ao Senhor Jesus do Carvalhal, no Bombarral, e a respetiva bênção dos camiões. O Círio de Campelos é desde a sua génese transportado por uma criança que na romaria simboliza o anjo e à saída de Campelos como à chegada ao Senhor do Carvalhal canta a Loa (louvor aos santos padroeiros da romaria) que explica o ritual e como o testemunho é passado para que se cumpra a tradição no ano seguinte. Uma tradição centenária que tem evoluído ao longo dos anos com a própria história do homem e dos transportes. Em meados do século XIX, os campelenses realizavam a romaria a pé, depois chegaram as carroças, mais tarde os carros e as motas e agora os camiões juntam-se à tradição e assim são igualmente abençoados para mais um ano de sorte e trabalho.   
A festa acabou assim por ser repartida entre Campelos e o Carvalhal. Desta forma, a presença do Círio de Campelos no Senhor do Carvalhal prolonga-se uma semana e no segundo domingo do mês de outubro cumpre-se a tradição com o Círio a regressar a Campelos em igual ritual. 
As Festas de Campelos são organizadas por uma larga comissão composta por diversas associações locais, cuja principal objetivo e missão prende-se com a angariação de fundos para ajudar a desenvolver projetos emergentes na freguesia. Ao longo dos anos já são vários os projetos que ganharam vida através dos lucros auferidos pelas Festas.  
“Somos quase a última festa de verão nas redondezas e temos uma dinâmica muito própria com dois palcos diferentes para conciliar públicos de todas as idades”, explicou Vanessa Lourenço, membro da comissão organizadora das Festas de Campelos. “Com os lucros que já angariamos conseguimos construir e recuperar o lar, adquirir o terreno para parte da escola do ciclo e ensino secundário e ainda o espaço do centro pastoral onde atualmente se realizam as Festas de Campelos. Há dois anos estamos a trabalhar para investir na própria festa”, explicou. 
O presidente da UF de Campelos e Outeiro da Cabeça considera promissor o futuro desta romaria e admite que estará na altura de começar a procurar, ou quiçá criar, um lugar com mais capacidade para acolher as festas anuais da freguesia de forma a permitir que esta tradição se vá adaptando à evolução dos tempos e às exigências das novas gerações.  
“O meu desejo é que a festa continue com a capacidade de se adaptar àquilo que os jovens querem, sem esquecer as tradições e garantindo atividades para todas as idades. Hoje em dia, os emigrantes reservam sempre período de férias para vir a Campelos e isso marca o momento do reencontro”, disse o Presidente da autarquia, José Damas Antunes.

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